BEM VINDOS À POESIA


sábado, 2 de abril de 2011

ENTREVISTA OU UMA AULA DE TALENTO?

ENTREVISTA COM A MS.CONCEIÇÃO RUSSO

Esta entrevista foi gravada em áudio e transcrita como parte de um trabalho durante meu curso de Didática realizado na FEUSP e solicitado pela Ms. Paula Perin. 
Obs.: a linguagem da transcrição é coloquial, pois o importante nesta transcrição é a oralidade.


Transcrição da entrevista
Sueli: Podemos começar? [não gravado]     
Conceição: Sim [não gravado]
Sueli: Comece pelo seu nome [não gravado]
Conceição: Meu nome é Conceição da Silva Zacheu Russo, Conceição que era nome minha avó por parte de pai, da Silva era do meu avô por parte de mãe, Zacheu, meu pai e  Russo do meu marido. Uma equipe pesada né? Bem representado pela família inteira, judiação.
Sueli: Pensava que era estrangeiro. Zacheu? Russo? [comentário]
Conceição: [é]
Sueli: E você nasceu?
Conceição: Nasci em São Luiz do Maranhão, vim com oito meses de lá, morei em Minas minha infância e depois aos 13 anos vim pra São Paulo.
Sueli: Como foi sua infância?
Conceição:... Minha infância? Eu venho de uma família numerosa, 9 filhos e não davam bola pra mim, [risos] e eu tinha que me mostrar, eu era obrigada né também, a me superar, mas de maneira geral eu gostava, então, tive uma infância alegre, tranqüila.
Sueli: E Seus primeiros anos na escola, como aluna?
Conceição: Então, quando eu comecei a estudar, eu morava em Minas, interior de Minas, e:: eu entrei novinha, que naquela época as crianças não iam para a escola tão cedo, eu tenho a impressão que entrei por volta de uns 3 ou 4 anos de idade. Eu me lembro, como agora tem Jardim I, II e Pré, eu fiz toda a fase do jardim e quando ia para o Prezinho, nós mudamos de cidade porque meu pai  era, trabalhava na  Receita Federal ele constantemente era transferido, ele trabalhava como cobrador de imposto, tinha uma sede da Receita Federal e ele era responsável pelo serviço. E ele sempre tinha que mudar e quando ele tinha que mudar a família inteira ia junto. Cobrador de impostos, vivia mudando de cidade. Naquela cidade onde mudei ainda em Minas não havia pré-escola depois mudei as crianças começavam estudar a partir do primeiro ano, Na cidade de Minas que eu mudei não havia  pré-escola, as crianças já entravam direto no primeiro ano a partir dos 7 anos, e eu não tinha sete anos tinha 5 anos. Eu ainda ia completar 6 anos em março, então impensável eu estudar, na época meu pai pagava escola para 7 filhos, então, ele conversou com a freira e  não deixavam eu estudar e eu adorava estudar,  sempre gostei, eu  me lembro que  naquela escola que eu tinha uma professora maravilhosa que chamava  Tia Estelinha...não me lembro se era tia que se chamava na época, ela chamava Estela, a gente chamava ela de Estelinha. Depois que mudei de cidade, lá só tinha um colégio de freiras, primeiro como ouvinte, só pra não ficar em casa, sorte, como eu já sabia ler, ficou fácil né,  na época pegava uma cartilha, chamava Caminho Suave, se não me engano, eu me lembro que eu peguei a cartilha e li a cartilha inteira pra mulher. ai eu fiquei na sala, no final do ano eles ficaram morrendo de dó e  como eu fazia aniversário em março e o ano letivo começava em fevereiro, eles  deram um jeitinho lá e eu acabei passando e freqüentando normalmente a aula.
Sueli: E depois o Ensino Fundamental?
Conceição: Fundamental 1ª a 4ª? Da 1ª a 4ª eu estudei na cidade Minas, eu me lembro que eu falava pra caramba, eles reclamavam muito [risos] que eu falava muito e atrapalhava a aula, mas eu produzia muito, eu lembro que eu era autodidata como eu não prestava atenção na aula, chegava em casa tinha que me matar de  estudar porque não prestava atenção na aula, então tinha que me matar de estudar. Era autodidata, eu tenho até hoje o boletim guardado, engraçado, minha irmã me deu 10... ... só  notas altas...9, não tinha nota baixa não.  Quando eu fui para o fundamental II eu não tinha idade de novo eu tinha 9 anos e só podia entrar a partir dos 10 anos, na época tinha que fazer exame de admissão e eu tive que ficar cursando um ano admissão por conta da idade que eu não tinha, ai eu fiz uma prova antes de entrar para o fundamental II...Quer que continue?
Sueli: Pode continuar. Depois você vai falar sobre o Ensino Médio..
Conceição: Então, foi tranqüilo, mudei de cidade novamente, mas eu me adaptei bem.
Depois o Ensino Médio, era vestibulinho que você fazia. Aí eu estava em São Paulo, finalzinho do fundamental II... Em São Paulo eles..., Era Escola Pública... Em Minas escola boa era escola particular, escola pública era só para quem era repetente, quem não acompanhava. Em São Paulo era o contrário, escola boa era escola particular, desculpe, escola boa era escola pública, escola do Estado, alunos que não acompanhavam ia para a escola particular isto de modo geral, assim iam para escola particular que existe até hoje. Tinha umas escolas de primeira linha, Bandeirantes.. não lembro se já tinha o Bandeirantes, Santa Inês...mas eram muito caras, meu pai ganhava muito bem, mas eram muitos filhos, então não tinha condições, e meus irmãos mais velhos já estavam no cursinho, ele  pagava Cursinho  Objetivo para meus dois irmãos, não tinha como, era complicado, tinha que estudar em escola do Estado. Fiz vestibulinho, eu lembro que eu queria estudar numa escola que era considerada a melhor escola de São Paulo, chamava-se???  Escola Estadual??? fica ali perto daqueles viadutos, no centro de São Paulo, não lembro ...ali onde tem muitos viadutos, perto da Rua do Mercado Municipal. Sabe onde é? Chamava-se Escola Estadual São Paulo.
Sueli: Era no Parque Dom Pedro?
Conceição: Exatamente, no Parque Dom Pedro, só que naquela época estavam construindo viadutos e era muito perigoso e meu pai morria de medo de eu ir sozinha para lá e acontecer alguma coisa né, ser estuprada porque era muito deserta, muita construção, inclusive naquela época meu pai não tinha carro e a gente era obrigada a se virar de ônibus mesma pra cima e pra baixo. Aí ... Estudei pra caramba...”quero entrar naquela escola”, às vésperas do dia do exame, ele vem e diz para mim que eu não ia fazer, que era perigoso e “não quero que você faça”. Eu morava no Ipiranga e tinha que estudar no Ipiranga mesmo.  Eu estudei a noite inteira, mas aí eu  era obediente né... Me inscrevi no vestibular no 1º ano e passei. Estudei o Ensino Médio no  Ipiranga mesmo. Só que ali eram três tipos de ensino médio, você escolhia. No primeiro ano era igual para todo mundo, já no segundo...não, no terceiro, acho que era no terceiro, isso mesmo no último ano, você tinha que escolher entre, humanas, exatas e biomédicas, exatas era para quem queria cursar engenharia, humanas para quem queria estudar comunicação social como eu. Eu falei que queria fazer faculdade de comunicação social, e biomédica para quem queria estudar medicina, como eu queria passar no vestibular sem cursinho eu sempre optava por biomédicas, porque não era tão puxada como exatas e nem tão fraca como humanas. No primeiro momento eu falava que queria ser professora, eu sempre falava que queria ser professora, eu estava me preparando para o vestibular, mas as pessoas falavam tão mal, que professor ganhava pouco, que não era reconhecido e aí peguei e escolhi uma profissão que remunere bem. Na época eu escolhi publicidade e propaganda e fui estudar comunicação social para trabalhar em publicidade e propaganda por que o salário era muito bom na época. Mas, desde aquela época, a cada 100 alunos que estudavam, apenas 10 conseguiam trabalhar  no mercado de trabalho, eu fui uma entre as 10 que conseguiu trabalhar na minha área.
Sueli: E seu relacionamento com os professores?
Conceição: Ao longo da minha vida sempre fui tranqüila, eu era um pouco quieta sim, não era aluna de ficar falando não, tirando dúvidas o tempo todo não. Na época, na minha trajetória do ensino médio, eu lembro... Eu não me lembro... Eu lembro era muito tímida, tinha vergonha de fazer perguntas em sala de aula e acharem que eu era burra, ou algo do tipo assim, não era questionadora não, como me tornei autodidata por conta de falar muito, eu me saia muito bem nas provas, porque eu gostava então me esforçava e sempre tirava notas boas nas provas. Era tranqüilo
Sueli: Por ser autodidata, suas boas notas eram frutos de sua autonomia?
Conceição: Eu acredito que sim. Eu me lembro até que na primeira faculdade, eu entrei com 17 anos, eu me lembro de um professor, eu me lembro direitinho, um dia ele estava dando aula, ele me chamava de Ciça, não era Conceição, ele parou a aula e disse: “Ciça! Você está atrapalhando a aula, está atormentando.” Eu fiquei tão vermelha, tão assim, depois daquele dia eu comecei a segurar minha língua [risos]. Eu falo demais mesmo. Eu falo que geralmente o aluno que quer aprender rápido ele fala muito, ele quer mais[...]. Eu sempre fui ansiosa. Eu encontrei uma turminha que fez o ensino médio comigo, nós nos reunimos  no ano passado, eles fizeram um jantar, em setembro nos reunimos. Há mais de 30 anos estamos formados e a primeira coisa que perguntei para uma colega minha, eu perguntei assim pra ela: “Você se lembra se naquela época eu já falava rápido?” Porque alguns alunos falam para mim: “A conceição, você é ansiosa, você fala rápido.” E ela disse: “Olha Conceição, eu lembro direitinho daquela época, você já falava rápido.” A mais de 30 anos, bom, então não tem jeito.
Sueli: E como você descobriu sua vocação para professora?
Conceição: Quando eu era pequenininha e fazia a pré-escola e eu adorava, tinha um coração branco e um coração negro, quem aprontava ficava no coração negro quem era bonzinho ficava no coração branco, eu sempre ficava no coração branco e o meu irmão sempre aprontava e  ficava no coração negro, “tadinho”. E aí eu já queria, eu adorava, eu já queria ser professora. Na época que fiz vestibular eles falavam que professor ganhava pouco e eu não optei por conta do salário, eu ganhava muito dinheiro, realmente ganhava, eu trabalhava numa empresa multinacional, eu lembro que ganhava muito bem, se hoje eu estivesse trabalhando lá eu ganharia o equivalente a uns 7.000 reais, eu lembro que o salário era excelente, só que não era em são Paulo, era em Ilha Solteira. No começo  trabalhava lá, fiquei lá por um ano, mas estava namorando há muitos anos...uns 6 anos  eu namorava, então voltei, casei, larguei tudo,virei dona de casa.  Ai, quando meus filhos foram crescendo eu quis retomar meus estudos. Aí eu falei: “Não, agora vou fazer o que eu gosto...né?” Porque eu não tava preocupada com o dinheiro, meu marido ganhava bem, sustentava a família.” Vou fazer alguma coisa que eu gosto” e fui estudar por prazer mesmo. Sempre gostei de ler, então,    e ai no primeiro momento não pretendia dar aula, fiz a faculdade de letras para aumentar minha cultura que estava restrita, eu lia sempre as mesmas obras, os mesmos autores..., eu queria ampliar o leque cultural. Aí fui para fazer a faculdade, no meio do caminho meu marido perdeu o emprego e ele ganhava muito bem, e aí eu fui virar Eventual do Estado, mais assim, como preventivo. Eu falei assim: ”Deixa eu fazer alguma coisa, porque eu não sei...ele montou uma empresa e até que a empresa de lucro eu vou tentar entrar na área. Nos primeiros dias, foram meio assustadores, mas, aos pouquinhos...quando você percebe que o aluno aprende, você lapida o aluno, essa é a verdade: “Você pega o aluno meio cru e consegue vê ele se transformar em um aluno crítico, aí você acha que vale a pena, você diz:  “agora segue...” Acho que foi por ai que eu fui pegando, aos pouquinhos, não foi logo no comecinho não”. No começo foi por necessidade, mais depois eu pude ver que era isso mesmo que eu queria.
Sueli: E como se deu sua formação?
Conceição: Eu, aos 17 anos fiz a graduação, como já falei Comunicação Social – Publicidade e Propaganda. Trabalhei na minha área durante um ano, eu ganhava muito bem, larguei tudo, pra me casar, fui trabalhar em Ilha Solteira, mas, como minha família era daqui de São Paulo e meu marido também. Depois fiz vários concursos públicos, tinha sorte de fazer concurso público. Trabalhei na Caixa, no INSS, tudo concurso público. Fazia, passava e ia trabalhar. Quando meus filhos nasceram, eu sou perfeccionista e eu não conseguia conciliar o trabalho com a criação dos meus filhos, ai quando  chegou uma época que eu vi que não dava. Eu parei tudo. Quando meu filho tinha 3 anos e minha filha 6 anos, fiquei em casa cuidando deles, ao mesmo tempo eu fazia cursos, eu fazia curso de inglês, de informática, não fiquei completamente parada, e eu lia bastante. Quando eles ficaram maiorzinhos, já adolescentes, eu parei  minha vida de dondoca e fui estudar. Eu entrei na faculdade com 40 anos eu tenho 52 agora, aí voltei a estudar, fiz vestibular, passei e terminei a faculdade. No meio da faculdade meu marido perdeu o emprego, quando terminei a faculdade, fui lecionar numa escola particular, fui convidada a lecionar numa escola particular, quando eu entrei na escola particular eu ganhava muito bem , eles pagam mais que muita faculdade, a escola particular que paga melhor aqui no ABC. Eu acredito que hoje se estivesse lecionando lá eu estaria ganhando uns R$35,00 h/aula, senão mais, eles pagavam bem uns 35... 36... Por aí. Embora eu ganhasse muito bem, no primeiro ano que eu fui lecionar lá eu queria fazer especialização na PUC, já no ano seguinte, só que tinha uma cláusula, não era bem uma cláusula específica, mas o professor que lecionava lá tinha que ficar livre aos finais de semana, tinha que ficar disponível  para a escola e como era uma escola particular de elite, eles faziam muitas atividades aos finais de semana na escola. Havia muitos problemas, o pai trabalhava, a mãe trabalhava a semana toda e ali os professores eram obrigados a trabalhar aos sábados. A organização era muito chata e a especialização era aos sábados. Quando eu comuniquei que ia fazer especialização no ano seguinte, eles mandaram eu optar ou especialização ou trabalho. Tinha eu e outra professora no mesmo caso, só que a outra professora não tinha marido, sustentava filho, ela já tinha pago a matrícula e abandonou, ela continuou a trabalhar na escola. Eu falei: “eu não”, “vou pagar pra ver”, peguei e falei que não queria desistir da especialização, ai me mandaram embora. Eu levei um susto, trabalhava dia e noite sem parar, era incansável mesmo. Sábados, domingos e feriados não tinha, ia dormir meia noite e acordava as 6 da manhã para dar conta, porque era uma turma exigente, era uma oitava série, com pais com dinheiro no bolso, rifavam...A Dona da escola falava que os pais rifavam os alunos, e eles tinham..., as notas deles eram altíssimas 9, 10, não podia ter ninguém abaixo da média, eu tinha que me matar de estudar para acompanhar esta turma. Só que ai quando eu optei por fazer especialização, me mandaram embora. Ai, peguei o dinheiro da indenização e pensei: “Ah! Que beleza!” “A gente ganha um limão e faz dele uma limonada”, e fiquei feliz da vida, seis meses só estudando, mas aí prestei um concurso pro SESI e ai me chamaram e eu fui trabalhar no SESI...não parei ... “Acho que acabei né”. Agora começa outra novela... (risos).
Sueli: pode continuar
Conceição: Terminei a especialização eu já dava aula no Colégio Anchieta e ai emendei com o mestrado mesmo achando que eu não tinha condições de pagar o mestrado porque na época o mestrado era mil reais, eu tinha esperança de conseguir uma bolsa, mais ai eu acabei a especialização já emendei com o mestrado na PUC e quando fazia 6 meses que eu estava fazendo mestrado eles me chamaram para dar aula na Teia do Saber aqui, que era um treinamento para professores do Estado, a maioria desta sala eram especialistas, eles já tinham colocado 6 professores para fora, eles faziam abaixo assinado e punha os professores para fora. Eu tinha que dar aula aos sábados, eu entrava 8 da manha e saia as 5 da tarde. Eles falaram assim: “ você vai ter que dar aula de literatura”, eu falei: “Ai que delícia, literatura é comigo mesmo” quando eu dei... Apresentei o programa pra turma, quando chegou a metade do 1º dia da minha estréia lá, eles vieram falar pra mim que tinham errado o programa e eu teria que dar aula de Metodologia de Língua Portuguesa para Ensino Fundamental. Eu quase cai dura porque eu não tenho pedagogia, eu fiz comunicação social, fiz letras e especializei em literatura e ai eu disse: “puxa”. Sabe quando você se vê em uma saia justa? Eu já tinha gostado da turma, aparentemente a turma tinha gostado de mim eu fiquei imaginando que eles tinham gostado.
Eu falei bom o negocio é encarar. Abri o jogo com a turma, disse: “eu não tenho pedagogia”, tinham vendido “gato por lebre”, mas eu contava com eles. Como a maioria era pedagogo, eu falei: “eu vou contar minha experiência de professora de Ensino Fundamental, a minha parte eu vou passar, as necessidades, e que eu gostava de inovar e eu quero que vocês me ajudem na parte da lógica. Eles tinham que montar um plano de aulas. Eles montavam na lousa em conjunto. Eu dava a idéia, eles discutiam e montavam na lousa. No fim deu tudo certo. E:: e ainda eu fazia cursos. Eu gostava de fazer cursos, sempre adorei fazer curso. Eu fiz um curso de oficina de contação de história. Por exemplo: Como ensinar redação. Às vezes eu fazia esses cursos presencialmente e naquela época eu já fazia curso on-line na PUC, curso da Leitura até a Redação, Como trabalhar redação com vestibulando. Entre os cursos que eu fazia na Casa da Palavra, tinha uns cursos gratuitos na época da graduação que eu fazia e esses cursos me deram essa criatividade inicial para trabalhar em sala de aula. Davam dicas que dali me levavam a ter outras idéias para trabalhar. Eu conseguia dar uma aula de oito horas; no primeiro momento, eu trabalhava a parte teórica, mais pesada e num segundo momento a parte prática e colocava os alunos pra trabalhar, essa dinâmica fez com que eles gostassem. Deu tudo certo. E aí a Faculdade me chamou para dar aula no Curso de Letras, no primeiro momento não era Literatura Brasileira Pura , eu trabalhava literatura com  outras linguagens: Cinema, Teatro e Publicidade e depois num segundo momento é que foi a parte de Literatura mesmo. Aí eu estava cursando o mestrado. Terminei o Mestrado no ano passado. Este ano...No início do ano fiz um curso de Oratória por conta de eu falar muito rápido e por conta do fato que eu ficava apavorada quando tinha que entrar num auditório. Quando eu tinha que fazer uma palestra num auditório, eu tinha que tomar calmante homeopático porque eu ficava muito insegura . Depois deste curso não, agora é tranqüilo, vou e falo tudo, tranqüila, sem problema. Neste semestre, eu fiz um curso de Tutoria, aqui mesmo na faculdade  e faço um curso no SENAC que é “Como você ser autora de... É um curso de planejamento de ambientes virtuais de fins didáticos”, é pra você ser autora de curso à distância, começou em agosto e termina em novembro. To sempre estudando. Não consigo ficar parada.
Sueli: Você falou de suas experiências no Ensino Superior e no Ensino Fundamental?
Conceição: No Fundamental? As primeiras aulas minhas foram interessante, engraçado até, eu não tinha pratica de sala de aula né! Não tinha experiência, por exemplo: Minha primeira experiência foi dando aula de Eventual no Estado, preparei um texto lindo do Carlos Drummond de Andrade, “Eu, Etiqueta” achando que ia abafar com aquele texto lá... um texto grande.Era uma turma de 5ª ou 6ª série e aqueles alunos nem aí! Nem dando bola pra mim. Ai que horror! Meu Deus! Eu me lembro que eles conversavam, não tavam nem aí, eu tinha que ter programado uma atividade mais dinâmica, porque eles não me conheciam, eles sabiam que eu era eventual e não ia mudar nada na vida deles, não ia valer nota, eu tinha que propor uma atividade mais dinâmica, não me conheciam, vinha com um texto pra ler e interpretar, não deram muita bola. Depois fiquei em janeiro, um mês inteiro. Em janeiro que era reforço naquela época que existia, fiquei substituindo uma professora gestante, aí eu programei alternar textos com poesias...Eu lembrava que um professor da faculdade falava assim: “O aluno mais rebelde você conquista pelo coração, pela poesia”, e realmente, ao longo destes anos que eu tenho trabalhado, a classe pode ser a mais indisciplinada, você trabalha poesia com eles, nossa! Eles ficam um doce. E você pega mesmo pelo coração. Então eu vou criando umas dinâmicas, eu lembro... “Eu trabalhava com música, com filme”. Tinha numa Escola Estadual em São Caetano, cada sala havia uma TV e um vídeo cassete, na época era vídeo cassete,  eu passava na locadora, pegava o filme, punha na sala de aula e trabalhava com ele, era muito gostoso, trabalhei um mês com isso foi o que me deu um pouco mais de experiência. Foi um sufoco, aquela experiência que eu falei...Naquela escola os alunos eram muito críticos, eles...Tinha alguns alunos que não tinham TV normal, só TV a cabo e alguns eram proibido de assistir televisão, eles tinham que estudar e  aprendi bastante,com isso, aprendi como planejar uma aula, como avaliar. Tudo que era dinâmica, tudo que eu investia eu aprendi. Eu sou perfeccionista, então eu colocava tudo em prática. Quando eu fui pro SESI, já era o contrário, era uma turma carente, era uma turma... ali perto de São Matheus...era em Santo André divisa com São Matheus. Era um SESI que eu fazia umas dinâmicas, assim... Eu gosto de dinâmica com aluno porque fica mais fácil. Eu faço uns joguinhos com eles... eu me lembro que fiz um joguinho, era de acentuação e eles ganhavam trufas que eu mesmo fazia, umas trufas pequenininhas, e eu fiquei impressionada porque alguns alunos olhavam pra mim com o olho cheio de lágrimas porque eles nunca tinham comido trufas na vida. Eu falei: “Gente! Aquilo ali foi marcante”. E aí eu fiquei substituindo uma professora gestante. Quando eu saí da escola eles fizeram uma festa pra mim, de despedida, tinha bolo dos professores e da coordenação e os alunos foram até lá na festa e me levaram...Sabe aqueles rolinhos de namorados? Como é que chama? Um rolinho enorme. Sabe aquele que gruda uma carta na outra, eles enfeitaram, coloraram numa caixa recheada de folhas secas, a caixa veio decorada com um laço lindo, eu tenho guardado até hoje, agradecendo. Nossa! Eu morria! Quando eu fui mandada embora do primeiro colégio. Da Escola Particular, eu fiquei assim, meio... Quando a gente é mandada embora a gente sente insegura, você acha que falhou em algum ponto e eu achava que de alguma maneira eu tinha falhado. E quando eu fui trabalhar nesta escola que eu fui reconhecida, aí eu falei: “Não o problema não é comigo.” Quando eu saí eu fiquei muito abalada, eu sabia que era porque a criança não queria estudar, mas a gente fica insegura. Eu me lembro  eu uma vez  uma professora minha; ela falou assim pra mim: “Não se abala com isso não, você é maior do que todos eles” e cada vez que eu...”humm...não quero chorar...cada vez que eu ficava...[lágrimas] [emoção]
Sueli: quer um copo de água?
Conceição: Não quero não [lágrimas]
Sueli: Se quiser eu vou pegar.
Conceição: [refeita] Cada vez que eu me abalava, ela falava que eu era maior que isso e eu ficava lembrando um monte de coisas que eles aprontavam comigo porque naquela época, eles não aceitavam o fato de eu ter começado a lecionar com eles e meu trabalho aparecer... [choro]
Sueli: [preocupada] Pega lá um copo com água pra ela...
Conceição: [não precisa]. Aí quando eu fui para a escola do SESI e fui reconhecida, aí eu vi que não era tão ruim assim. Né? Era uma sala com 42 alunos, e acontece... Quando você começa a trabalhar... Eu era chamada de boazinha, aí, quando eu fui embora pro SESI. Eu tinha uma amiga e ela sempre falava pra mim: “Quando o aluno não te conhece, você fecha a cara, depois que ele te conhecer, depois de um mês, você pode abrir um sorriso. numa sala numerosa, ninguém te conhece, tem que fechar a cara, não dá pra sorrir pro aluno, não mostre os dentes.” Ai quando eu entrei no SESI, 42 alunos, eu estava assustada achando que não ia dar conta, então realmente não sorria, não mostrava os dentes, eu não me reconhecia, entrava séria e saía séria da sala de aula, mas consegui dominar a disciplina, não causou o maior problema. Na escola particular o nível é complicado porque você não sabe até onde vai o limite, né? Até onde você pode ir sem exagerar. Você pode prejudicar uma criança, ela pode ficar traumatizada pelo resto da vida, por outro lado, que acontece: Se você der uma de boazinha eles acham você muito mole, sobem na sua cabeça e ai você não consegue passar o conteúdo, aí a coordenação te cobra, enche o saco: “você tem que passar o conteúdo.” “O aluno tem que aprender.” Então o limite...é este  limite que eu não sabia: “até onde eu podia ir.”  Até  onde eu podia deixar o aluno ir.” Este limite era bem complicado. No SESI, onde eu pude me impor, eu percebi isto. Aí depois do SESI, eu vim pro Colégio Anchieta e aqui eu consegui segurar a turma, eles me viam ainda como boazinha, mas na hora que eu queria, por exemplo:  Numa aula que tinha produção de texto eles podem conversar, trocar idéias. É melhor, é rico. Numa aula de gramática, no primeiro momento eles não podem dar um pio, eu falo que quero silêncio absoluto. Eu paro minha aula se eles não fizerem silêncio, eles têm que ficar em silêncio para eu explicar a gramática, a explicação é mais complexa e se eles não pegarem a artimanha, depois eles não conseguem fazer o exercício. Pior que isso, sou bem rígida na hora da gramática. Na hora do texto, lógico eles podem discutir, trocar idéias. Eu já sou mais uma aliada. Eles sabem o momento que eles podem participar e o momento que eles tem que ficar quietos. Aí fica fácil. Agora eu estou dando aulas na Prefeitura de São Caetano, é uma classe pequena, tem 26 alunos. É a primeira vez que dou aula seguida pra mesma turma. Eu nunca dei. Sempre muda, né? Sempre bater na mesma tecla? Então, vou mudando e acompanhando e  a mesma turma dois anos seguidos e eles imploram: “Ano que vem você vai dar aulas...” “Ai, dá aula pra gente”. Eles devem ter aulas com outros professores também, né!  Mas agora é tranqüilo, a minha aula é bem...Eles gostam da minha aula porque não é aquela mesmice. Há professores de Português  que seguem o livro: “Abram o livro na página “tal”, leia o texto e vai seguindo o livro piamente. Eu sigo o livro piamente, mas sempre interfiro com outros... Como talvez, eu tinha base...Eu fiz  faculdade de publicidade e propaganda, então, de certa maneira, eu quero e tento cativar o aluno para que ele goste da minha disciplina. Então, eu procuro pegar contos de interesse, eu trabalho muito com projetos, eu vivo inventando projetos; às vezes, tem uns projetos que a escola mandar fazer e outros que eu invento e aí eles trabalham sem perceber. Que nem... Atualmente, eu acabei de sair de um projeto de Machado de Assis, que eu trabalhei com eles. Eles tão lendo... Eu peguei uma adaptação para eles lerem do livro, conto O Alienista, chama-se: “Em Frente da Casa Verde com a Mentira”, eu trabalho esta adaptação com os alunos, a tarde eles têm aula de reforço com outro professor que está trabalhando a obra o Alienista de Machado de Assis e eles vão assistir ao filme O Alienista e aí nós vamos fazer  a intertextualidade, eles vão...eles sabem o neologismo entre as obras que eles vão trabalhar...Os alunos estão no 7º ano, antiga 6ª série. São alunos com 12 anos, 11, 12 anos e eles tem condições de... um ritmo. Já tem um senso crítico apurado, por conta da criatividade que foge, assim, aos padrões... Suponho. A partir da Semana que vem eles vão trabalhar também... Eu to montando, já, uma propaganda da escola, que não tem, no PowerPoint, na verdade, como a escola é pública e não tem PowerPoint, o programa lá é BROffice. Então, eles  fizeram o roteiro da propaganda. Eu peguei o material na agência de propaganda mesmo, eles desenharam as imagens, fizeram então o layout né, peguei o texto e agora eles vão para o computador. Eu separei algumas fotos. Eu tenho uma série de fotos. Na verdade, é na segunda feira, eu tenho duas aulas pra eles. Eu vou dar as fotos pra eles e vou ficar lá de plantão, porque eu vou montar um arquivo pra história desta escola; um arquivo pro CENP outro pra Sede. Eles vão entrar nestes arquivos, escolher as fotos que eles querem e eles vão montar a apresentação deles em PowerPoint. Eu pedi apoio do pessoal de informática, mas ele falou pra mim que não dava para trabalhar no BR Office com PowerPoint e aí, eu fui lá, fucei, cutuquei e descobri que dava e eu vou tentar novamente falar com o pessoal da informática na segunda feira e vê se eles conseguem começar o trabalho na segunda à tarde com meus alunos. De manhã, eu faço o contrário, separo os arquivos e a tarde trabalha. Caso ele não trabalhe, não tem problema, na próxima aula da semana que vem, eu paro tudo, eu vou levar os alunos na sala de informática e vou trabalhar com eles. Na verdade, eu queria que a equipe de informática começasse o trabalho porque eu vou finalizar o trabalho, mas eu não sei até que ponto eu vou contar com o apoio deles. Se eu não contar, com certeza vai sair. De um jeito ou de outro, eu vou fazer este trabalho. E eles estão motivados. Eles pedem: “Professora”... Uma palavra que vão colocar no cd que eles não sabem escrever, vão buscar no dicionário, eles perguntam,  ficam com medo de errar a concordância, então, na verdade, eles estão fazendo um trabalho prazeroso em Língua Portuguesa sem perceberem. Uma série de coisas que trabalho com eles, a parte visual, a parte da estética, a parte da ortografia, tá tudo neste trabalho que eles fazem brincando. Eles estão trabalhando a Língua Portuguesa.
Sueli: Você acabou fazendo um relato de toda sua atuação em sala de aula.
Conceição: É:: No fundamental é isso mesmo.
Sueli: E na faculdade? Também é a mesma coisa?
Conceição: Na faculdade, no primeiro momento, pro pessoal que está iniciando, eu pego o pessoal no terceiro semestre, então, eu parto do pressuposto que eles não sabem nada.
Sueli: Você trabalha só com literatura?
Conceição: Com Literatura Brasileira. Eu parto do pressuposto que eles não sabem nada, então eu começo bem do comecinho: O que é literatura, Como se deve ensinar literatura. Depois eu procuro montar uma apostila, como se fosse uma apostila de cursinho, ensinando o BE-A-BA  mesmo:  A parte histórica, tá tudo marcadinho: Contexto Histórico, Contexto Cultural e assim vai. Deste material, eu parto para um arquivo básico que é o texto literário com teóricos Alfredo Bosi que dá aula na USP, dava aula, porque eu acho que não dá mais. Eu trabalho com o Alfredo Bosi e com Antonio Candido. São dois críticos literários. No primeiro momento os alunos ficam assustados, eles não conseguem entender a erudição do autor,  então eu pego;  no terceiro semestre, eu pego este texto e eu tenho um fichamento do texto; Fichamento do texto que eu fiz..porque eu trabalhava...quando eu era graduanda na Fundação, eu fazia monitoria e fazia fichamento de Literatura  Brasileira  para estudar e os alunos que iam na minha monitoria pediam o fichamento, então para este pessoal do terceiro semestre, leio o fichamento, explico, mostro como se faz, então ficam habilitados para o quarto semestre. No quarto semestre, já estão indo para o Romantismo / Realismo, eu já coloco eles mesmo pra fazer o fichamento. Eu mostro um exemplo de fichamento de outra disciplina e peço para  ficharem o Romantismo, não chego a pedir que façam todo o fichamento, peço alguns, a parte crítica inicial do capítulo e pego um autor do Romantismo para eles fazerem o fichamento. Recebo este material dos alunos, dependendo da turma; ali são duas turmas. No final do ano eu tenho cem fichamentos que eu corrijo individualmente. “Ai! Que louca!” (risos), aí eu perco um sábado inteiro e um domingo inteiro corrigindo. Aí eu verifico se eles conseguiram captar os pontos chaves do assunto. Antes, eu trabalhei em sala de aula, duas aulas; já li, já trabalhei, já falei pra eles quais são os pontos chaves e não são nem uma nem duas vezes não, várias vezes. Daí, eu recebo por escrito pra ver se chegaram à essência, se por acaso eles ao chegaram, é porque, afinal, eles comeram bola lá no texto e ai::, devolvo e faço uma prova, então, assim. Eu trabalho com filme, eu sugiro  uma série de filmes relativos ao momento literário que estou trabalhando, eles tem que fazer uma análise. Uma ficha de análise do filme que vale como atividade complementar, passo o filme...eles assistem o filme em sala de aula e mostro como é que é, depois sugiro vários filmes que eles podem assistir  que valem como atividade complementar, então trabalho com filme. Música: As vezes eu trago, mas  geralmente eu sugiro as músicas e peço para que eles trabalhem a parte lúdica, que para eles é mais prazeroso e, na verdade, eu fico mesmo é com o “pão duro” lá, (risos)  pegando o texto, analisando, desmiuçando, colocando eles pra criticar, fazer uma análise crítica, e aí, eu faço várias verificações escrita e debato em sala de aula. Muita coisa registrada, eu faço.
Sueli: Você faz muitas avaliações com eles? Escritas?
Conceição: Não. Eu trabalho com obras literárias. Para cada período literário, eu tenho uma série de obras literárias que eu sugiro que leiam, antes das férias. Então... Só o pessoal do  terceiro semestre que não passo bibliografia, não, eles me pegam logo de cara e eles lêem só dois livros; eles lêem Macunaíma de Mário de Andrade por conta da interdisciplinaridade entre a carta às Icamiabas e a carta de Pero Vaz de Caminha. Eu passo entre o romantismo e modernismo. Eu trabalho Macunaíma e depois o Arcadismo, isso só no terceiro semestre, depois eu trabalho o Romanceiro da Inconfidência de Cecília Meireles que é uma interdisciplinaridade com o Arcadismo de outros autores do Arcadismo e eles tem que ler o livro e o roteiro de leitura. Mas na verdade, são quatro livros que eles pegam, aparentemente são dois, mas eles têm que pegar o roteiro para trabalhar mais devagarzinho. A partir do semestre seguinte, eu trabalho o Romantismo/Realismo, nas férias, eu já passo uma lista de livros para eles lerem, eles são obrigados a lerem quatro livros para o próximo semestre e mais outro que é trabalho em dupla. Então, pelo menos, cinco livros têm que ler e compartilhar com os demais. Eles acabam tomando conhecimento de obras em torno de oito obras; até dez obras... Não, em torno de oito obras mais ou menos. É por aí. Quando chegam no último ano,  quinto ou sexto  semestre, a carga horária diminui pela metade, então são trabalhos mais reflexivos. É mais debate. É uma coisa assim... Mais... Que eles chamam mais ‘light’, também, eu já não cobro obras deles porque eu sei que eles lêem a bibliografia básica. Eu já sei que eles lêem, na verdade, criam hábito de leitura, eu forço essas leituras que é para obrigar o aluno a ler, então quando no quinto ou sexto semestre, eu já sei que eles lêem,  então, já não cobro obras porque eu sei que eles lêem e sabem que farei a prova e não vão bobear comigo. Aí, eu cobro a verificação e eles já estão preparados para esta verificação.
Sueli: Além de ministrar aulas, que outras oportunidades profissionais seus cursos proporcionou a você? Palestras? Livros? Já escreveu algum livro?
Conceição: Não. Eu escrevi um livro na época da graduação, na época que eu tava criando, depois não escrevi mais. Sempre estou tentando escrever artigo para revista, mas eu nunca publiquei. O que eu tenho feito é Palestra, bastante. Aqui na faculdade eu organizo muitos eventos: Simpósio, Ciclo de Palestras... Agora mesmo que você veio, acabei de sair de uma Oficina de Literatura, maravilhosa; eu trabalhei Vidas Secas e trabalhei Capitães de Areia. Como trabalhei? Eu fiz vários... No caso de Vidas Secas eu trabalhei imagens, tela de Portinari, peguei um filme e fiz um trabalho intertextual, depois eles tinham que reflexivamente discutir e reproduzir um texto. No caso de Capitães de Areia eu sugeri uma música e eles sugeriram filme que fazia a intertextualidade, eles tinham que fazer uma reflexão crítica a respeito do que acontece com o menor abandonado, com os meninos de rua e de alguma maneira eles tinham que provar porque a obra continua atual. Então, foi muito gratificante. Eu acabo de dormir as cinco da manhã, por que não tive tempo, durante a semana,  de preparar  o PowerPoint, mas valeu a pena, foi interessante.Então, fiz a Oficina, Simpósio, Ciclo de Palestra, aqui na Faculdade. Aqui na Faculdade eu sou responsável também pelo jornal de... No primeiro momento era um jornal literário. A partir deste ano não é mais jornal literário, é bem diversificado. Eu que fico organizando, cobrando as pautas, cobrando alunos, cobrando professores e cuidando do trabalho final mesmo, da produção. Além do jornal literário, este ano, por conta dos alunos que estão terminando e vão prestar ENADE, eu elaborei Simulados, eles fizeram um por conta, agora. Este ciclo de palestras que eu criei, também foi por conta do ENADE, era pra eles conhecerem literaturas que não são dadas no momento em sala de aula, porque, geralmente, eles estudam o que: “Literatura Latina, Brasileira, Portuguesa, Inglesa”, e nós trouxemos Literatura Francesa, Latino-Americana, Hispano-Americana e assim por diante. E assim, eles vão conhecendo. Fora da Faculdade eu fiz Palestras... Eu participei de uma... Eu participo assim, quando eu domino o assunto. No ano passado eu fui para Brasília, que era um Congresso Internacional sobre Clarice Lispector e eu fui lá e fiz uma Comunicação. Semana que vem eu vou fazer uma Palestra na UNESP de São José do Rio Preto, que é um Congresso de Literatura, sobre... Têm várias temáticas, eu optei por uma temática que trabalha Literatura com Semiótica que é um trabalho que eu fiz na Especialização Sobre a Marca Coca-cola; como ela se transforma, aproveitando a idéia dela do Ciclo ao Ícone. Era um símbolo que era um ciclo. Agora, a marca você associa a gandaia.  Como é que foi a história da trajetória? A trajetória ocorreu por meio da função poética da linguagem que procura associar todo aquele ritmo da propaganda à poesia e é por esse motivo que ela consegue vender, consegue conquistar o público, seduzir o público...
Sueli: Você pode deixar uma mensagem para quem ler esta entrevista?
Conceição: Ai!... meu Deus! (tímida)
Sueli: Eu sei que você me mandou por escrito, mas acho que não vai se lembrar de tudo que disse.
Conceição: Por escrito é mais fácil.
Sueli: Então escreve aí, depois você fala. (risos)
Conceição: Bom! Uma mensagem... Eu acho o seguinte: Acabamos de sair do dia dos professores. Há um... Eu vejo os professores que trabalham comigo, que eles... Talvez eu esteja animada com a profissão, aí, eles falam pra mim: “Conceição”... Eu comecei a fazer a faculdade em 1998, nós estamos em 2008, fazem dez anos que eu recomecei estudar e eu comecei a lecionar,mesmo, pra valer, em 2001 quando eu peguei uma turma de oitava série, então, não faz muito tempo que comecei a profissão, então, as vezes eles falam que estou animada, com toda esta energia porque faz pouco tempo que... como eles já estão a vinte, trinta anos, eles já estão cansados, eles sentem desestimulados. Só que eu penso assim: “Eu com quarenta anos fui para a faculdade, quando eu desanimava, eu lembrava do meu pai que com sessenta anos estava terminando o supletivo”, então eu acho o seguinte:  “Tem que ter esperança que você pode mudar este mundo”, senão, não tem sentido você estar numa sala de aula, Se você entrar numa sala de aula e ninguém te der bola, se você conseguir uma pessoa e fazer com que ela siga seu destino, porque é assim., quando você dá uma aula, de uma forma ou de outra você passa aquilo que você acredita e eu acredito. Eu tenho muita esperança eu a gente possa mudar este país e por isso que eu estou numa sala de aula. Eu acho que se eu conseguir passar pro aluno que ele, por meio dos recursos que ele tem ou tiver ao longo da vida dele e ele puder fazer a diferença, eu acho que já valeu à pena; Porque cada ser humano... A gente não tá aqui por nada, ta aqui... É como se cada um tivesse uma missão e de alguma maneira eu tenho que transformar este mundo. Porque as pessoas só pensam em ter, elas não pensam em ser  e é isso que corrompe. Houve um tempo em que as pessoas pensavam em ser, depois elas começaram a ver bens materiais e elas passaram a dar importância ao ter. A partir do momento que o ser humano se conscientizar que o mais importante é ser, aí eu acho que ainda haverá esperança  para a humanidade... Com certeza.
Sueli: Quer responder estas palavrinhas?
Conceição: Vamos lá.
Sueli: Pode ser com uma frase ou uma palavra.
Conceição: Tá.
Infância? Alegria
Adolescência? Angustia
Educação? Um sonho
Vocação? Prazer
Profissão? Bem é...
Professora? Eu não lembro o que eu tinha respondido. Acho que tinha respondido missão, mas acho que é mudança. É isso: Mudança. Professor é capaz de provocar uma mudança.
Sueli: Acabou. Agora é só agradecer e bater palmas
Conceição: e:: Falei pra caramba.
Sueli: Obrigada.









3 comentários:

  1. Excelente!!! AMEI a entrevista da nossa querida Conceição... ela é um ser humano fantástico e uma profissional extraordinária!!! Saudades de vocês, viu?
    BJKS

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  2. Nossa Sí ela é fantástica mesmo, e aprendi mais durante a entrevista do que na faculdade porque na faculdade são muitas teorias, mas vivenciar as experiências da Conceição faz toda a diferença, uso tudo em sala de aula, e não é que da certo!
    Obrigada.
    Saudades de você também.
    bjo no coração!

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  3. Saudades da Conceição e sua aulas cheias de energia, garra e vontade...

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